SQ Talk Especial: Quando a diversidade se torna potência ↩
No dia 3 de dezembro, em celebração ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, realizamos um SQ Talk especial promovido pelo nosso Comitê de Diversidade e Grupo de PcDs. Para este momento tão importante, convidamos Rogéria Lourenço dos Santos, psicóloga clínica especialista em TCC, neurociências, comportamento, neuropsicologia e com formação em Terapia do Esquema, para compartilhar sua história e trajetória.
Uma conversa transformadora ↩
Com o tema "Quando a diversidade se torna potência: minha história", Rogéria nos presenteou com um relato genuíno, emocionante e profundamente educativo sobre sua experiência como pessoa com Atrofia Muscular Espinhal (AME), uma condição que afeta o neurônio motor e que a acompanha desde a infância.
Nascida em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 1979, Rogéria cresceu em uma época em que praticamente não existiam diagnósticos precisos, informações ou recursos de acessibilidade. Durante anos, sua família acreditava que ela tinha a "síndrome de Hoffman", até que o diagnóstico correto de AME tipo 2 só veio em 2017, quando ela já tinha 38 anos.
Principais aprendizados ↩
O perigo de ignorar a deficiência ↩
Um dos pontos mais marcantes da conversa foi quando Rogéria questionou: a deficiência deve ser vista ou ignorada? Ela destacou que ambos os extremos são problemáticos - tanto ignorar completamente a deficiência quanto hiper focar apenas nela, esquecendo que existe uma pessoa completa ali.
Rogéria vivenciou na prática os danos da invisibilização: por muito tempo foi carregada no colo, sem cadeira de rodas adequada, e chegou a episódios como quando uma professora, no primeiro dia de aula da sexta série, a chamou para ir ao quadro sem saber que ela não podia caminhar. A escola não havia informado aos professores sobre sua condição.
O conhecimento como libertação ↩
Rogéria tatuou em seu pulso a frase em latim "conhecimento liberta e ignorância mata", demonstrando sua crença profunda no poder transformador da educação e do autoconhecimento. O estudo foi, em suas próprias palavras, o que salvou sua vida - permitindo que ela construísse uma carreira sólida, passando por graduações em Processamento de Dados e Letras (Português/Inglês), até chegar à Psicologia, onde encontrou sua verdadeira vocação.
A importância da inclusão genuína ↩
Rogéria destacou o papel fundamental de sua professora da pré-escola, Margarete, que a incluiu ativamente em todas as atividades em uma época em que sequer existia a palavra "inclusão". Esse exemplo nos mostra que a verdadeira inclusão vai além de políticas - ela acontece quando pessoas se importam genuinamente.
Como oferecer ajuda ↩
Um momento valioso do diálogo foi quando Rogéria orientou sobre como abordar pessoas com deficiência: aproximar-se com gentileza, abaixar-se para ficar na altura da pessoa cadeirante e simplesmente perguntar "você precisa de ajuda?" Ela enfatizou que perguntar não ofende - o que machuca é a indiferença ou os olhares piedosos.
Diversidade além da deficiência visível ↩
A conversa também abordou as deficiências invisíveis, como autismo, TDAH e altas habilidades. Rogéria destacou o sofrimento de pessoas que têm medo de revelar suas condições no ambiente de trabalho por receio de julgamento, lembrando que há benefícios em deficiências visíveis justamente porque eliminam essa dúvida sobre quando e como se revelar.
Avanços científicos e esperança ↩
Rogéria compartilhou que hoje existem medicações para AME que permitem que bebês diagnosticados precocemente tenham desenvolvimento completamente normal, algo impensável quando ela nasceu. Embora ela própria ainda lute para conseguir acesso ao tratamento devido a especificidades genéticas, celebra esses avanços que transformam vidas.
Reflexões finais ↩
O encontro nos lembrou que somos todos muito mais semelhantes do que diferentes - biologicamente, todos descendemos do mesmo ancestral comum. As diferenças que criamos são construções sociais que precisam ser desconstruídas com conhecimento, empatia e, principalmente, disposição para ouvir e aprender.
Como bem pontuou a colega Silvia durante o evento, tanto pessoas com deficiência quanto familiares têm a responsabilidade de trazer esclarecimento com educação e cordialidade, sem ofender, pois muitas pessoas simplesmente não sabem - e agradecem quando aprendem.
Agradecemos imensamente à Rogéria por compartilhar sua história com tanta generosidade e autenticidade. Este SQ Talk nos deixou mais conscientes, sensíveis e preparados para construir um ambiente verdadeiramente inclusivo, onde a diversidade não seja apenas tolerada, mas celebrada como potência.